Crise de identidade - Hoje sinto-me uma fraude...

| Artigo de Opinião |

Hoje sinto me uma fraude...

Decidi escrever sobre o assunto porque pode haver mais pessoas que sinta o mesmo que eu... 

 

Como pessoa que gosta de aprender coisas, continuo a estudar, e particularmente há uns dias tive uma aula, muito boa por sinal, com uma pessoa que admiro muito.

 

Resultado: adorei. 

Problema: sinto me uma fraude...

É verdade... Até vos posso dizer: sinto-me uma fraude com alguma frequência até... Tipo, algumas vezes por anos... trimestre, às vezes por mês..

Fraude, impostora, o que quiserem chamar... 

Também sentem isso?

Porque é que isto acontece?

Bem, não sei responder, mas posso vos dizer que talvez tenha a ver com a aceitação da incerteza do nosso trabalho, e sentir ocasionalmente a vulnerabilidade que ela acarreta, de forma mais acentuada, quase ao estilo de uma crise existencial...

 

Talvez seja sinal de que tenhamos percepção dos nossos limites de conhecimento. E talvez a sensação que sentimos surja quando tocamos precisamente nesses limites.

 

Talvez o nosso modelo preditivo correspondente à percepção do nosso conhecimento tenha sofrido um erro preditivo (prediction error minimization), e com isto tenhamos tido a percepção de falha... "Afinal eu pensei que sabia mais..."

Tal como nos nossos pacientes, mudar o modelo preditivo (sobretudo na dor persistente) talvez seja importante para continuarmos a evoluir... 

 

Se não tivéssemos tocado nesse limite, talvez nunca tivéssemos sentido a necessidade de mudar algo... Rectificar as nossas presunções e estudar... Diria eu.

Uma coisa é certa, desistir não é alternativa, se quisermos continuar a aceitar ser profissionais de saúde devidamente actualizados, mesmo que isso implique perceber os nossos erros e falhas. (Quase na linha da aprendizagem transformativa de Mezirow.)

Mas custa sempre... Eu reconheço disso...

 

Talvez, talvez...

 

São muitos "talvez", verdade, mas a alternativa é assumir a presunção que sabemos, sem termos essa informação. Prefiro aceitar a incerteza do que correr o risco de assumir o errado por certo...

Contudo vamos finalizar a um bom "talvez"...

Talvez este desconforto seja a "factura" que pagamos por fazermos algo de que gostamos verdadeiramente...

 

 

Inspirações:

João Santos Neto, Bernardo Pinto, Monserrat Conde, Hugo Mendes, Pedro Barbosa, Ana Semedo, Pedro Almeida; Fts.