Uma questão de sensibilidade - Lutar contra a “parede”
| Artigo de opinião |
Já aqui escrevi sobre vários assuntos e diversos problemas de saúde, mas não me recordo de ter escrito sobre uma das principais áreas sobre as quais intervenho, que é a área de neurologia (em fisioterapia designada de área neuromuscular).
Sendo este um artigo de opinião, vou me reportar aos meus anos de experiência, neste caso, relativos aos casos neurológicos. O contacto com os meus pacientes permitiu-me ter um pequeno vislumbre daquilo pelo qual eles passam. Com os anos comecei, ainda que de forma inconsciente, a coleccionar na minha mente algumas comparações/metáforas de modo a os ajudar a expressar-se relativamente às suas dificuldades, do ponto de vista motor.
Vou deixar aqui alguns exemplos para ilustrar as sensações:
"Sente que está a andar/ a lutar contra uma parede? Ou como se estivesse embrulhado num cobertor apertado?"
"Sente como se estivesse a andar na areia da praia a toda a hora, como se estivesse a arrastar os pés contra um chão difícil de percorrer?"
"Sente como se o seu corpo estivesse desligado os interruptores, em relação à sua vontade?"
"Sente como se estivesse constantemente em alto mar?" (desequilíbrio)
"Sente como se tivesse tomado medicação para dormir e o efeito não desaparece? Mente-corpo estão quase "turvos"?"
"Sente como se o seu corpo de repente pesa-se toneladas?
"Sente que está a andar/ a lutar contra uma parede? Ou como se estivesse embrulhado num cobertor apertado?"
"Sente como se estivesse a andar na areia da praia a toda a hora, como se estivesse a arrastar os pés contra um chão difícil de percorrer?"
"Sente como se o seu corpo estivesse desligado os interruptores, em relação à sua vontade?"
"Sente como se estivesse constantemente em alto mar?" (desequilíbrio)
"Sente como se tivesse tomado medicação para dormir e o efeito não desaparece? Mente-corpo estão quase "turvos"?"
"Sente como se o seu corpo de repente pesa-se toneladas?
À primeira vista até parece bastante inofensivo, não é? Até poderíamos pensar que são sensações anormais, como quando estamos a delirar de febre e sentimos coisas estranhas, ou eventualmente andámos nos copos, ou a fumar ou experimentar outras coisas... Inofensivo no mínimo, eventualmente divertido para alguns mais aventureiros.
Para perceberem onde quero chegar, escolham uma sensação e imaginem-na.
Agora, imaginem que ela não desaparece, em minutos, horas, dias... Mantém-se. E mantém-se. Simplesmente não desaparece. É uma sensação constante. Conseguem imaginar?
Agora já não parece ser tão inofensivo ou divertido, certo?
Agora, imaginem que ela não desaparece, em minutos, horas, dias... Mantém-se. E mantém-se. Simplesmente não desaparece. É uma sensação constante. Conseguem imaginar?
Agora já não parece ser tão inofensivo ou divertido, certo?
Dos sentimentos mais transmitidos pelos meus pacientes é a sensação de frustração, não apenas contra o seu próprio corpo, mas também em relação à incompreensão de terceiros: família, amigos, conhecidos, profissionais de saúde, etc. Ainda que não seja absolutamente intencionado da parte destes.
Porque é que decidi escrevi sobre isto? Não o decidi escrever somente em homenagem a quem sofre de alguma condição neurológica. Decidi escrever sobretudo visando todos os outros.
Atenção, não há qualquer motivo para sentir pena (no sentido de piedade), apenas respeito.
Respeito pela coragem de lutar a todo o momento contra essa sensação e não perder o ânimo.
Respeito pela coragem de iniciar um processo de reabilitação, sem saber o resultado final (porque em neurologia os prognósticos são muito mutáveis). Não é fácil.
Respeito.
Uma questão de sensibilidade: lutar contra a “parede”.
(Texto recuperado de Agosto 2018)
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