Reflexões - Super-herói II - Cuidadores
| Artigo de Opinião |
Penso que só quem tem um familiar, ou contactou de próximo com essa realidade (e não possui posses económicas suficientes, para contratar quem bem entende para ajudar o mesmo) é que compreende verdadeiramente as dificuldades inerentes ao cuidar de alguém dependente.
Como profissional de saúde, temos o privilégio de contactar de forma próxima com estas pessoas fenomenais, que mesmo exaustas, fazem mais do que aquilo que pensavamos ser possível fazer, muitas vezes à custa da sua própria qualidade de vida... e, ainda mais difícil, com carinho.
E todo o trabalho a que estas pessoas fenomenais se sujeitam, é feito de graça. Pois é. Ao que vocês poderiam me perguntar: Porque não haveria de ser de graça? Não é mais do que a sua obrigação.
E aqui vou apresentar uma pequena reflexão, se me permitem.
- Se temos algum acidente, ou nascemos portadores de algum tipo de deficiência... Digamos que são situações que não são culpa nossa, e que é considerado justo ter algum apoio, socialmente falando. Acho que qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade irá concordar com este ponto.
- E, dependendo do regime político, nós pagamos impostos a pensar nessas situações: porque os acidentes acontecem, porque não é possível prever alguns problemas de saúde, e porque não é só aos outros.
- Quando alguma pessoa com dependência é abandonada pela família, é o Estado que a sustenta e suporta os custos inerentes aos seus cuidados; ficando inclusive bastante dispendioso para o Estado, além de se perder aquele cuidado que é único de quem verdadeiramente nutre carinho.
Portanto... Se concordarem com as premissas anteriores, acho que posso arriscar no seguinte raciocínio: todos os contribuintes deviam agradecer, de pés juntos, àquelas pessoas fenomenais que assumem a responsabilidade sozinhas (ou praticamente) de cuidar do seu familiar, poupando em última análise receitas relativas às contribuições de todos.
E já agora, de forma a não entrarem em exaustão do cuidador, ficando incapazes de assumir esses cuidados, produzindo mais despesas ao Estado/contribuintes, talvez fosse melhor prevenir essa exaustão, não? Parece lógico, não acham?
Concluindo: mesmo para alguém que não tenha o mínimo de sensibilidade, penso que estes argumentos são suficientemente fortes, nem que seja por se preocuparem com o seu próprio bolso.
Por outro lado... Uma questão de sensibilidade.
Muito obrigada por finalmente ter sido aprovado este estatuto.
Muito obrigada a todos os cuidadores informais, com quem tive o privilégio de conhecer até à data, por me demonstrarem que os super heróis existem de verdade.
Contexto: https://www.rtp.pt/noticias/politica/foi-aprovado-o-estatuto-do-cuidador-informal_v1158628?fbclid=IwAR1Nvc0YK536Ziex8wymYsbdJmbqlJQjzXmpXqyNAzrkxCuAI1FMWKFZ1xM
(Texto recuperado de Julho 2019)
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