Fisioterapeuta, o Destruidor de Mitos
| Artigo de Opinião |
Certamente que os fisioterapeutas não serão os únicos (óbvio, e até seria quase uma ofensa às áreas de Psicologia e Psiquiatria, por exemplo), mas... eu sou fisioterapeuta, portanto vou “puxar a brasa à minha sardinha”.Alguns de vós deve-se recordar daquele programa norte americano chamado Caçadores de Mitos (MythBusters - http://www.imdb.com/title/tt0383126/), sim?
Se nunca viram, recomendo: é uma forma interessante de explorar o pensamento científico, recorrendo a uma boa dose de sentido de humor.
Pois bem, podem não acreditar, mas uma parte considerável do nosso trabalho passa por provar ao paciente que aquilo que ele acredita muitas vezes não passam de mitos que podem afectar negativamente a sua recuperação; mitos que este tem acerca do seu corpo e da sua capacidade de mover e funcionar.
“Tenho a certeza que me vai dor se mexer.”
Tem assim tanta certeza? Porque é que tem essa ideia? Já experimentou todas as amplitudes [livres de dor]?
“Vou ter dor até ao final da minha vida por causa do acidente.”
Está vivo, portanto, sentir dor é normal como forma de aviso dos limites do seu corpo. Mas porque é que acha que vai sentir dor até ao final da vida? Por causa do acidente? Mas acha que o seu corpo não se adapta? Então, ficou com as dores de todas as “nódoas negras” que já fez ao longo da sua vida? Elas nunca mais desapareceram, nem a dor envolvida?
“Nunca vou recuperar a força.”
Se não se exercitar, de facto pode não ganhar muito, mas se não se coloca à prova, como poderá ter a certeza disso?
A partir do momento em que não tem lesão neurológica (no sistema nervoso central - encéfalo/cérebro ou medula/coluna - ou no sistema nervoso periférico - nos nervos), ou problema metabólico considerável, não há motivo para não recuperar a força.
E mesmo perante uma lesão nervosa ou alteração metabólica, existe a possibilidade de alguma recuperação, dependendo da natureza do problema. Mas só se informando sobre o seu caso saberá o seu prognóstico. Porquê a ideia de que nunca mais vai recuperar? Se isso fosse verdade, nunca teria recuperado daquele entorse que fez em criança (quase todas as pessoas tem a experiência de um entorse na vida, caso não seja o caso, imagine outro cenário relativamente benigno).
“Sinto-me melhor se receber uma massagem.”
Acredito que sim, uma massagem sabe muito bem, mas uma massagem não lhe faz ganhar capacidades (força/controlo), e muitas vezes nem ajuda no ganho de mobilidade (se não tiver experiência de movimento, ou seja, testar o seu próprio movimento). Portanto, acha que receber só massagens vai melhorar a sua condição? A evidência já nos diz que não (1).
“Para recuperar vou ter obrigamente que sofrer. O que arde, cura, não é?”
Mito. Se vai ter de se esforçar nos exercícios, testar os seus limites para evoluir? Sim, sem dúvida. Sentir eventualmente dor muscular após as sessões? Sim, é normal. Sentir fadiga, cansaço, falta de ar, quando estamos a falar de reabilitação cardíaca ou respiratória, sim, é necessário. Sentir vertigens numa sessão de reabilitação vestibular? É normal.
Mas sentir dor intensa, ou estar em sofrimento durante a sessão, à beira de vomitar? Não, não é suporto. Sofrer de forma desnecessária, na minha honesta opinião, é sadismo do profissional e masoquismo do paciente.
Respeitando o que já sabemos sobre a neurociência da dor, sentir dor e medo da dor ou de outro sintoma na sessão pode agravar o prognóstico, sem necessidade nenhuma, e daí não recomendável. Para evitar isso, a educação por parte do profissional fará toda a diferença (2).
E eu poderia continuar com inúmeros exemplos...
Algumas das perguntas que coloco aos meus pacientes e que aqui apresento são as seguintes:
A. De onde surgiu essa ideia? Alguém lha transmitiu? Leu nalgum sítio? É uma fonte confiável?
B. Mesmo que seja uma fonte confiável, já pensou em ouvir uma segunda opinião? Está a aplicar o seu sentido crítico, ou a assumir que aquela pessoa é a única detentora da verdade?
C. Se acredita no que outra pessoa lhe diz acerca do seu corpo, porque não tenta “acreditar” um pouco em si? (Não me refiro a expectativas irrealistas, mas na desmotivação irrealista de que nada vai melhorar, quando o prognóstico até pode ser bom).
D. Já pensou que pode estar a associar a sua dor/sintoma a determinada situação, e com medo de a sentir, já está a a antecipá-la?
B. Mesmo que seja uma fonte confiável, já pensou em ouvir uma segunda opinião? Está a aplicar o seu sentido crítico, ou a assumir que aquela pessoa é a única detentora da verdade?
C. Se acredita no que outra pessoa lhe diz acerca do seu corpo, porque não tenta “acreditar” um pouco em si? (Não me refiro a expectativas irrealistas, mas na desmotivação irrealista de que nada vai melhorar, quando o prognóstico até pode ser bom).
D. Já pensou que pode estar a associar a sua dor/sintoma a determinada situação, e com medo de a sentir, já está a a antecipá-la?
Qual a regra de ouro, pergunta-me? Basicamente, sentido crítico e uso do que a investigação científica mais recente nos pode oferecer.
Destruir os nossos mitos internos custa muito, é verdade. É como qualquer processo de aprendizagem, pode ser doloroso, e até lhe resistimos inicialmente, não querendo aceitar, mudar. É normal.
Ter noção disso pode ser o primeiro passo para aceitar uma mudança. O segundo passo poderá ser questionar os seus mitos/crenças [à cerca do movimento].
Vamos destruir mitos...
Referências
(1) http://www.jospt.org/doi/abs/10.2519/jospt.2018.7476?code=jospt-site
(2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27351690
Inspiração
https://arturogoicoechea.com/2017/12/20/fisios-se-ha-despertado-el-gigante/
Referências
(1) http://www.jospt.org/doi/abs/10.2519/jospt.2018.7476?code=jospt-site
(2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27351690
Inspiração
https://arturogoicoechea.com/2017/12/20/fisios-se-ha-despertado-el-gigante/
(Texto recuperado de Janeiro 2018)
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