Filosofia aplicada - Alienação II

| Artigo de Opinião |

Cenário 2:

Trabalho num gabinete. Sinto que o meu trabalho é importante. As pessoas dizem-me que a “minha” fisioterapia é a melhor que já encontraram. Tenho uma vaga ideia de como é a fisioterapia noutros locais, mas isso não me incomoda. Desde que eu faça um bom trabalho, isso é que é importante. Não posso estar preocupad@ a pensar no que os outros fazem. Confesso até que me sinto ligeiramente envaidecido... quando vejo os outros a falhar naquilo que eu não falho.

 

Evito ir a congressos, cursos, conferências... Só me irrito com os colegas. Não percebo como trabalham de forma tão diferente da minha. Prefiro ir de férias, relaxar, ou a trabalhar. Não tenho paciência.

 

Apesar de compreender esta forma de pensamento, não consigo me identificar com ela, e passo a explicar:

Após Karl Marx ter desenvolvido o conceito de alienação no trabalho, falado na crónica anterior, Herbert Marcuse estendeu o conceito de alienação para outras realidades: alienação no lazer, no consumo. Tudo aquilo que usamos para nos fazer sentir bem e ignoramos a realidade dos outros, mas também a nossa: se estamos a alimentar crenças, por exemplo, e alienamo-nos de tudo aquilo que possa pôr em causa as nossas crenças.

 

Crenças... Este tema da para outras crónicas.

Não acham que a melhor forma de ser melhor profissional de saúde não passa também por melhorar a condição da nossa própria profissão?

Preferem estar sozinh@s, alienad@s, sem noção do que se passa à vossa volta?
E se a vossa prática estiver errada, desactualizada? Como se vão aperceber disso se estiverem fechad@s nos vosso gabinete/ambiente?

Se não vêem vantagem alguma em ajudar os colegas, lembre-se que poderiam estar no lugar deles (cenário 1, crónica anterior)... 

Se optam pela alienação voluntária, apercebam-se como são uns “sortudos” por terem sequer essa opção de escolha... Responsabilidade Social (ver crónica anterior).

 

 

Alienação? Não, obrigada. 

 

 

(Texto recuperado de Julho 2019)