Filosofia aplicada - Alienação
| Artigo de Opinião |
Cenário 1:
Entro no trabalho às 9h, saio às 18h, segunda a sexta, 1h de almoço. Tenho 5 pacientes por hora, mínimo, quando não me agendam mais pacientes. Não tenho tempo de os avaliar, pelo que só consigo olhar para as prescrições e aplicar o que está lá indicado. Alguém avaliou, que não eu, alguém reavalia, que não eu, alguém dá alta, que não eu. Como tenho muitos pacientes à mesma hora, nem consigo falar decentemente com os meus pacientes.
Procuro fazer o melhor possível com os recursos que tenho mas sinto que não era isto que devia estar a fazer. Mas as semanas, os meses, os anos vão se acumulando e eu não consegui mudar nada. À medida que o tempo vai passando a sensação de mau-estar vai se diluíndo, e eu vou-me habituando... Faz parte. Tem de ser feito e ponto. Não vivo do ar.
Desde que saí da faculdade e comecei a trabalhar as minhas prioridades pessoais foram mudando (carro, casa, filhos) e às tantas nem me posso dar ao luxo de arriscar e mudar de trabalho.
Confesso que há dias que tenho dificuldade em me identificar enquanto fisioterapeuta... Mas depois as preocupações do arranjo do carro, dos filhos, da conta da casa, acabam por ocupar a minha mente, e não penso mais no assunto.
Quando alguém me fala da minha profissão, gostava de sentir o orgulho que era normal sentir por ser profissional de saúde, mas já não consigo...
Quando alguém me fala da minha profissão, gostava de sentir o orgulho que era normal sentir por ser profissional de saúde, mas já não consigo...
Se for sincer@ comigo mesm@, já não sei o que é ser fisioterapeuta...
Alienação do trabalho, apresentada pelo filósofo, economista, sociólogo e teórico político Karl Marx, chama-nos à atenção para uma das consequências do trabalho frenético (produto da revolução industrial e do capitalismo) que aliena o trabalhador do produto final do seu trabalho (que se encontra subdividido para hipoteticamente ser mais rentável).
Como resultado disto, a pessoa não se identifica verdadeiramente com o seu trabalho: não acompanha a fase inicial, não tem tempo de fazer uma real equipa com o paciente, nem com outros profissionais de saúde, nem de avaliar o produto final desse trabalho conjunto.
Alienação do trabalho, apresentada pelo filósofo, economista, sociólogo e teórico político Karl Marx, chama-nos à atenção para uma das consequências do trabalho frenético (produto da revolução industrial e do capitalismo) que aliena o trabalhador do produto final do seu trabalho (que se encontra subdividido para hipoteticamente ser mais rentável).
Como resultado disto, a pessoa não se identifica verdadeiramente com o seu trabalho: não acompanha a fase inicial, não tem tempo de fazer uma real equipa com o paciente, nem com outros profissionais de saúde, nem de avaliar o produto final desse trabalho conjunto.
Conseguimos fazer um bom trabalho, se estivermos alienados?
Qual é o papel de quem não está nesta situação, num hospital, no centro de saúde, num gabinete, e somente observa?
A sensibilidade é inversamente proporcional à distância que nos separa dos problemas dos outros.
Continua...
Continua...
P.S. Este relato é ficcional, inspirado em testemunhos reais de colegas.
(Texto recuperado de Junho 2019)
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