Dignidade - Dar dignidade dá trabalho

| Artigo de Opinião |

Há uns tempos escrevi uma crónica, inspirada num vídeo de uma médica paliativista, que chamei de “Não quero dar trabalho”, que fala essencialmente na questão da inegável possibilidade de muitas vezes não conseguirmos aliviar a dependência dos nossos pacientes e o que fazer em relação a isso.

Mais recentemente escrevi sobre “a indignidade da doença”, e que a doença não assume a identidade da pessoa.

Hoje quero escrever sobre a luta que é dar dignidade. Dá tanto trabalho... Custa mesmo. Especialmente para quem é cuidador (formal ou informal), ou trabalha em regime de internamento, e estão horas e horas com as pessoas portadoras de dependência. Mas também quem vai ter com a pessoa pontualmente (como eu).

Dá trabalho lembrar que aquela pessoa é uma pessoa. Aquela pessoa não merece ser despida e vestida sem cuidado. Não merece ser movida sem cuidado ou autorização. Aquela pessoa não merece que a ignoremos, que esqueçamos quem ela foi no passado. Aquela pessoa merece fazer todas as actividades que ainda consegue, mesmo que isso dê um pouco mais de trabalho do que fazer por ela...

E dá mesmo trabalho, tanto trabalho às vezes.
Às vezes perdemos a paciência por minutos, esquecemo-nos de alguns cuidados extra a falar com ela, esquecemo-nos que a pessoa não é a sua doença ou condição, é uma pessoa.
E cansa, cansa mesmo, tanto o corpo como a mente.

Mas... vale tanto a pena... E há coisas que são impagáveis.


Dar dignidade dá trabalho, muito, mas vale mesmo a pena.



Um grande agradecimento a todos os cuidadores dos meus pacientes, que de corpo e alma nunca desistem de manter a dignidade das nossas pessoas.

 

(Texto recuperado de Dezembro 2019)

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