Reflexões - O risco da informação errada

| Artigo de Opinião |

Já lhe disseram que tem as articulações fora do sítio? E só quando ouve um "crack" é que sente a articulação a voltar ao sítio e a dor a desaparecer?
Já lhe disseram que tem as costas fracas e por isso tem dor? E se fizer algum movimento brusco as suas dores vão piorar?

Já ouviu falar em placebo? E nocebo?
O termo "placebo" está associado a fármacos, terapias ou procedimentos que ainda que sejam inertes apresentam efeitos terapêuticos (positivos) devido aos efeitos psicológicos da crença do paciente, que acredita estar a ser tratado.
Contrariamente ao placebo, o termo “nocebo está associado a reacções prejudiciais, desagradáveis ou indesejadas num indivíduo como resultado do uso de um fármaco, terapia ou procedimento inertes, onde as reacções não são resultado dos mesmos, mas das crenças e expectativas pessimistas do indivíduo de que aquilo que recebeu poderia causar efeitos indesejados. (Exemplo "clássico": uma pessoa sentir-se muito mal fisicamente após ser picada por uma cobra não venenosa.)
Em qualquer umas das situações, ainda que aquilo que foi usado/administrado seja inerte, existem não apenas efeitos psíquicos (emocionais, comportamentais) mas também efeitos físicos, muito reais.
Se acreditar que aquilo lhe faz bem ou mal, a probabilidade de sentir os efeitos positivos ou negativos, mesmo que o tratamento seja fisicamente inerte, são muito mais elevados, e há muitos mecanismos fisiológicos a suportar isto.

Qual é o problema?
Placebo
O problema com o placebo, visto que não causa efeitos negativos, é puramente ético. Fazermos alguém acreditar que aquilo faz bem por determinada razão irreal não é ético. Porque é que na saúde é correcto só porque resulta?

Nocebo
Os efeitos do nocebo podem ser muito elevados, sobretudo se a pessoa acreditar que algo consigo está errado e não há nada que a possa fazer, nomeadamente as articulações estão fora do sítio ou tem as costas tão fracas que não suportem nenhum movimento. Já ouvi tantas vezes este discurso e em nenhuma das situações era real (casos em que é real: luxação articular e osteogénese imperfeita respectivamente).
Quais são as consequências disto? Vou falar apenas das relacionadas com a componente física, visto que sou fisioterapeuta. Se alguém acredita que algo está errado e não se sente a melhorar:
  • Vai evitar mover-se, ou vai proteger determinada região, e o movimento que iria ajudar a recuperar da lesão original, de forma espontânea, não vai existir.
  • Pode assumir que tem mais problemas do que aqueles que efectivamente tem, e isso irá ajudar os fenómenos da dor crónica, por exemplo.
  • Vai gastar tempo e dinheiro à procura de soluções, porque não acredita que o seu corpo faça um bom trabalho (que na maioria das vezes até faz um óptimo trabalho).

Proposta:
  • Conserve o sentido crítico
  • Procure mais do que uma opinião profissional se tiver dúvidas
  • Nunca assuma que alguém é dono da verdade
  • Faça parte do seu processo de reabilitação

Algumas referências:
  1. https://www.bettermovement.org/blog/2015/three-reasons-it-matters-why-a-treatment-works
  2. http://www.painphysicianjournal.com/current/pdf?article=NDUwMw%3D%3D&journal=106

 

(Texto recuperado de 2017)

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