Crise de identidade - “Não sejas uma besta”

| Artigo de Opinião |

Quando pensamos em prática baseada ou informada pela evidência, algumas pessoas têm tendência a cair num erro de pensamento: que usar evidência é sinónimo de sermos pessoas frias, pouco humanas, insensível, que a prática humanizada é incompatível...
  • Desde quando é que usar a maior evidência disponível, e deixá-la à disposição dos pacientes, é incompatível com ter uma prática humana?
  • Aceitar a incerteza de que não posso saber tudo, e ser sincero com o paciente nesses limites (limites da ciência)?
  • Ter em consideração que a nossa experiência é boa, mas tem viés (viés cognitivos, neurociência), e por isso devemos ser honestos com o paciente?
  • Ter em consideração que os valores, atitudes, espiritualidade, crenças dos nossos pacientes são fundamentais para o processo (relação paciente-terapeuta, neurociência da empatia, etc)?
No fundo, ter em consideração que o nosso paciente é uma pessoa, e que, apesar de sermos profissionais de saúde, não deixamos de ser pessoas também.

Uma pessoa a falar com outra pessoa.
 
Com a única diferença que uma das pessoas sabe mais um bocadinho e por isso tem mais responsabilidade.

A relação de poder (profissional de saúde vs paciente) já é tão desigual...
  • Vamos iludir os nossos pacientes com as nossas próprias crenças, ignorando o pouco (muito pouco) que a ciência tem para nos oferecer?
  • Ou dizer que usamos ciência (ignorando uma parte da ciência, especificamente ciências sociais), ignorando a pessoa que está à nossa frente? Ignorando tudo o que sabemos sobre relação terapêutica, comunicação empática, escuta activa? Agindo com insensibilidade e pensando que assim nos estamos a escudar com a ciência?

Não.
Então...

“Não sejas uma besta”



[Informal, Depreciativo] Pessoa violenta ou grosseira
"besta", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/besta.
- Prática baseada/informada pela evidência
- Cuidados de saúde centrados no utente
 
 
(Texto recuperado de Outubro 2019)

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