Crise de identidade - “Não sei”
| Artigo de Opinião |
Parece-me que existe um sério problemas
junto de muitos profissionais de saúde, especialmente na minha classe, a
dizer a expressão “não sei”, quando efectivamente o conhecimento não
está disponível por parte da investigação científica. E o problema surge
quando tentamos arranjar uma explicação mirabolante para algo que
efectivamente não sabemos.
Como já foi referido noutras crónicas,
sobre crenças, a nossa mente cria associações úteis para a
sobrevivência, de forma a reduzir a incerteza, mas por vezes essas
associações são abusivas, desde a simples ilusão de óptica, às crenças
mais elaboradas, alimentadas pelos nossos viés cognitivos (nomeadamente
viés de confirmação).
Faz parte. Faz parte da nossa percepção
errar. Não tem mal nenhum. Curiosamente é até a nossa própria
experiência que nos dá pistas nesse sentido e invariavelmente chegamos à conclusão que não podemos “acreditar” em tudo. (Exemplo:
podia jurar a pés juntos que aquela pessoa me odeia. Tudo o que ela faz
aponta para isso!... Só que talvez não.)
Portanto, sem as mínimas
provas, quando não sabemos, vamos arriscar dar um informação errada?
Sabendo como a nossa mente é um pouco traiçoeira? Não acham um pouco
arriscado?
“Eu não sei”.
Custa assim tanto dizê-lo?
Digam em voz alta. “Eu não sei.” Com honestidade, sinceridade, seriedade.
“Mas vou tentar ajudá-lo, dentro das ferramentas que tenho disponíveis.” Acham que se perde a credibilidade por sermos honestos?
Não acham que, tal como as ferramentas de trabalho que usamos, a nossa comunicação também não é uma ferramenta de trabalho?
Como
tal, há que assumir a responsabilidade na sua utilização. Vamos ter
muito cuidado onde pomos as mãos, mas vamos ser irresponsáveis na
comunicação?
Portanto... Em vez de inventar, que tal dizer simplesmente:
“Eu não sei”.
Isso não quer dizer que desista de procurar algumas respostas ou desista de si.
(Texto recuperado de Setembro 2019)
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